segunda-feira, 28 de outubro de 2019

[RESENHA] BACAMARTE - Teatro Municipal de Niterói - 25 de Outubro de 2019

Acervo Progrockvintage
Após quase dois anos, retorno ao simpático Teatro Municipal de Niterói para a realização de um antigo sonho: assistir a uma apresentação ao vivo do Bacamarte com a presença de alguns de seus membros originais, incluindo a iluminada voz de Jane Duboc.

Tive então o privilégio de ser convidada pela produção da Vértice Cultural para acompanhar a passagem de som que foi uma pequena prévia do que viria a presenciar naquela noite. Ali já pude sentir um arrepio por poder ver e ouvir de muito perto toda a preparação técnica em um momento bem íntimo, por assim dizer. Ao nível do palco, acompanhei a finalização de montagem e afinação dos instrumentos, assim como os ajustes de voz, som e luz e, posteriormente uma pequena palhinha de alguns de seus clássicos consagrados. 

Pouco depois das oito da noite, o Bacamarte entra em cena com o teatro praticamente lotado e abre o show com os primeiros acordes de Miragem. Faixa instrumental, onde dava pra sentir com bastante nitidez, a pureza da perfeita acústica do teatro no momento em que Mário Neto começa a dedilhar os primeiros e lépidos acordes em uma Les Paul preta, um tanto impactante por sua potência e extrema beleza.

A curta e também instrumental, Caño realça a extrema competência e técnica bastante apurada do baterista Alex Curi, acompanhado pela forte vibração do poderoso e muito bem executado Rickenbacker do simpático William Murray. A demonstração de habilidade e entrosamento entre os dois músicos, não somente nesse faixa mas durante toda a apresentação, foi de se impressionar. Além de todo esse veneno, Marcus Moura abandona a flauta para empunhar um lindo e discreto Acordeon acompanhado pelo sintetizador do versátil e ótimo tecladista, Robério Molinari.

 Uma das boas surpresas da noite foi a linda Canção Filosofal, composta em 1974 por Mario Neto e Sérgio Vilarim (tecladista da formação original) mas nunca lançada oficialmente. Momento este de pura comoção por parte do guitarrista.

Vale ressaltar que, entre uma faixa e outra, Mário discursava com certa descontração mas bastante emocionado, citando sempre seus antigos companheiros de banda e da música num geral. Momentos estes um tanto comoventes e bonitos de se ver.

Em UFO, os músicos destilam mais uma vez uma inflamada técnica e forte interlocução instrumental. Se inicia com alguns belos acordes de violão clássico, bem na tradição brasileira de grandes violonistas, como Gismonti e Baden Powell por exemplo. A música se direciona para uma espécie de serenata, adoçada por flautas no estilo Guarani, dando espaço a uma linda timbragem de cravo em complexas movimentações. Com passar do tempo, entram belos solos de flauta doce acompanhados de esplêndidas passagens vinda dos sintetizadores. Que banquete para os ouvidos!

Smog Alado abre com um imponente duo entre baixo/bateria, seguidos por fragmentos de flauta transversal e virtuosos solos de guitarra. Nesse momento, entra o caloroso porém, tenro vocal de Jane Duboc que vem como um alento para os ouvidos dos espectadores.

Seguida por Espíritos da Terra, faixa leve com uma linha calma de baixo, entradas sutis de teclado e dessa vez, uma guitarra mais suave. Linda versão retirada do álbum 'Sete Cidades' onde, mais para seu final, Mario divide o vocal com Duboc em um momento de muito bom gosto, a meu ver.

Em Pássaro de Luz, todos os holofotes são voltados para a talentosa vocalista e um dos nomes importantes da MPB, em uma das mais belas baladas do Rock Progressivo. Jane Duboc fez e ainda faz muita diferença quando adentra ao palco ou aos estúdios por onde o Bacamarte passa. Sua voz se encaixa com perfeição ás composições executadas pela banda, fazendo com que ela seja peça importante para a edificação harmônica entre seus membros.

Filhos do Sol, mostra uma outra habilidade de Mário Neto quando se dedica aos imponentes vocais contidos nessa faixa. Mais uma vez durante o show, a percussão de Alex Curi se torna ainda mais evidente e Marcus Moura se destaca nos solos de flauta que, dessa vez, seguem uma linha mais voltada para o folk.
Acervo Progrockvintage
Depois do Fim, música que dá nome a um dos discos mais procurados e respeitados do Rock Progressivo mundial, cai como uma bomba no teatro por sua atmosfera apocalíptica, com vocais rondando certa melancolia, beirando de certa forma o fim dos tempos.
Os solos de guitarra mais uma vez se sobressaem e se difundem a uma perfeita base de teclados e sintetizadores.
Em todos esses anos em que me dedico a escutar o gênero com muito afinco, tenho o solo de flauta ao final como o mais perfeito de todos os tempos, deixando muito flautista de renome internacional no chinelo.
Certamente, essa foi uma das músicas mais marcantes de todo o espetáculo.

Outra grata surpresa foi a inédita Lua Minguante, dividida em quatro pequenas suítes que denominam as fases da lua em uma instrumentação impecável.

Mirante das Estrelas evidencia novamente a perfeição no que diz respeito ao entrosamento dos músicos. A interação frenética do violão acústico e guitarra com os teclados reverberava no ambiente, enquanto o resto da banda fornecia certo alicerce no decorrer da execução. Vale destacar também, mais uma vez, a imponência e destreza no baixo de William Murray.

Já perto do fim da apresentação, a faixa Polêmica se encaixou ao setlist, relembrando uma composição dos anos 70, escrita por dois ex-membros da banda, o baixista Delto Simas e o baterista Marco Veríssimo.


Fechando com chave de ouro, Último Entardecer talvez tenha sido a execução mais longa de todo o show. A introdução se destaca pela timbragem perfeita de um piano digital extraído de um Casio Privia que acompanhou Robério durante todo o espetáculo. As variações de teclado são bastante interessantes, passando por lindos segmentos de piano a técnicos solos de sintetizadores. 
Dessa vez, os solos de guitarra saíram de uma linda Gibson EDS (double neck) a qual possui uma sonoridade bem característica mas nesse caso, os acordes eram de extrema sofisticação. As flautas soaram como uma vistosa brisa acompanhando a amargurada voz de Duboc em letras filosóficas, lidando com a morte, o medo e a esperança.

O Bacamarte encerrou a terceira edição do Carioca Prog Festival em alto nível onde reuniu músicos de extrema qualidade em um show altamente virtuoso, repleto de boas recordações, emoções e absurda certeza de que devemos respeito ao Rock Progressivo nacional como um todo. O Brasil possui novas e velhas bandas de siginificativa relevância que merece espaço e divulgação decente nos diversos meios de comunicação da atualiadade. 

Um bom exemplo disso é a bem sucedida parceria entre a Vértice Cultural e a BeProg que vem acendendo ainda mais a chama de que o gênero permaneça em envidência a ponto de atrair cada vez mais pessoas para o lado bom da música. 

Nesse ano essa parceria rendeu mais um belíssimo festival que reuniu doze excelentes bandas vindas de cinco estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Pará, Rondônia e Rio Grande do Sul e divididas em quatro teatros entre as cidades do Rio e Niterói. 

Nesse momento, só me resta agradecer a Vértice Cultural (leia-se Cláudio Paula) e aos diversos amaigos aos quais me reencontrei por lá por tão cuidadosa hospitalidade a qual me receberam em Niterói. Tenho certeza de que todas as centenas de pessoas que compareceram aos shows comungam da opinião de que este festival entrou para a história!

Que venha 2020!


5 comentários:

  1. Resenha sensacional! deve ter sido um show maravilhoso mesmo...estive fora a semana toda por uma viagem de trabalho e só cheguei em Niterói no dia seguinte ao show. Abs!

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  2. Bravíssimo! Não tinha como ter um fechamento melhor para esse festival sensacional. Grande orgulho e envaidecimento por ter tido a honra de participar dessa grande festa, com a Prognoise.
    Parabéns e obrigado!!!!

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  3. Resenha perfeita e show incrível. Estava presente, já é o terceiro show do Bacamarte que assisti e considero esse último o melhor de todos. Os anteriores foram no antigo Metropolitan e no Rival.

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