domingo, 15 de março de 2020

[RESENHA] MARTIN BARRE - 50 ANOS DO JETHRO TULL - SESC PALLADIUM - BELO HORIZONTE

Acervo Progrockvintage
Belo Horizonte foi palco do encerramento da temporada em terras brasileiras do guitarrista Martin Barre na última terça-feira, 10/03, no moderno teatro do Sesc Palladium. Músico e banda ainda passariam por Argentina, Chile, Peru e México nos próximos dias mas pelo que tive notícia, os dois últimos países tiveram seus shows cancelados em intercorrência do tão temido Covid-19. O Brasil teve sorte em contar com a confirmação das quatro datas sem nenhuma especulação de cancelamento. 

Infelizmente não obtivemos lotação máxima, contando com algumas poltronas vazias nos três setores disponíveis, em um espaço com capacidade para mil e poucas pessoas. Apesar de pequeno, o teatro possui uma acústica de primeira (uma das melhores de BH), iluminação adequada e decente, proporcionando assim uma atmosfera bastante intimista do artista para com o público.

O show, em justa homenagem aos 50 anos de uma das maiores e melhores bandas de Rock Progressivo de todos os tempos, teve seu início por volta de 21:20hrs em um palco relativamente clean, sem muitas parafernálias típicas dos grandes espetáculos do gênero.

Martin Barre munido de uma linda PRS (Paul Reed Smith) e sua experiente banda adentram ao palco entoando os primeiros acordes de A Song for Jeffrey seguida por My Sunday Feeling (This Was'-1968) em compassos mais voltados para o blues, demonstrando ali a nítida certeza de que seria um espetáculo de extrema qualidadeVale lembrar que Barre não participou do disco em questão, entrando na banda após da saída de Mick Abrahams ainda em 1968. 

Acervo Progrockvintage

Como era de se esperar, a primeira parte seguiu em ordem cronológica com a execução da fase mais progressiva/folk do Jethro, com os discos lançados basicamente entre os anos de 1968 e 1978. Com exceção aos registros 'A Passion Play' (1973),  'Minstrel In The Gallery' (1975) -tinha esperanças de que a faixa título seria executada assim como fora em outros países mas infelizmente ficou de fora no Brasil- e o bom 'Too Old to Rock n´Roll...' (1976).

Duas relevantes faixas do 'Stand Up' (1969), Back to the Family e For a Thousand Mothers (ponto alto do show) mostraram claramente que a flauta de Anderson não faria tanta falta assim mas seu característico vocal, mesmo com a idade avançada, esse sim fez falta em alguns momentos importantes. 
Seguida por Nothing Is Easy, Martin Barre mostrou a que veio, com belos e engenhosos solos de guitarra, acompanhado por músicos de peso e extremo entrosamento.

Dando um fôlego aos presentes, Barre apresentou a banda que incluía o desconhecido e relativamente jovem baterista Darby Todd que, muito surpreendeu pela forma de conduzir a banda com uma técnica bastante ousada, contribuindo para que certas faixas soassem ainda mais pesadas do que as originais. O veterano baixista Alan Thomson, complementou a cozinha em suntuosos e potentes arranjos de baixo que chegavam a ecoar nas paredes do teatro. 

Outro jovem músico, acompanhava Barre no violão e na guitarra base. Também munido por uma PRS, possui um talento inegável como instrumentista, belos arranjos e com uma excelente pegada.  São notórias certas semelhanças ás timbragens de voz de Ian Anderson e a alguns de seus trejeitos porém, a meu ver, o vocal pecou em alguns segmentos.

Como em toda boa banda de progressivo, os tecladistas merecem destaque e, nesse show em particular, tivemos a grata presença de Adam Wakeman (filho do Mago) que já há alguns bons anos vem tocando com grandes nomes da música tais como Black Sabbath, Ozzy, Annie Lenox e em alguns projetos de seu próprio pai.
Adam que possui um talento particular, assumiu com maestria os teclados principais e demonstrou uma técnica absurda na execução dos Hammonds e pianos, muito bem simulados em um Nord Stage e Korg Kronos.

Mas quem roubou a cena foi a linda tecladista e arranjadora Dee Palmer (aka David Palmer) com presenças marcantes em alguns solos e na bela introdução de piano de War Child. Palmer foi de extrema importância na carreira do Jethro Tull desde seus primórdios. Responsável direta pelos arranjos de cordas, metais e sopro para as canções no final dos anos 60 e início dos anos 70, antes de se juntar formalmente ao grupo em 1976, assumindo de vez os teclados até sua saída em 1980.

Devo confessar que os teclados do Adam estavam um tanto baixos em relação aos outros instrumentos nessa apresentação no Palladium. Mereciam mais destaque mas não chegou a comprometer tanto. Vide o solo de Hammond em Teacher e a introdução de piano em Locomotive Breath que ganharam destaque com boas evidências sonoras, ambas executadas mais para o final da apresentação.

Acervo Progrockvintage
Voltando ao show, a banda apresenta uma das duas únicas faixas do disco 'Benefit' (1970) executadas ao longo da apresentação. Disco este que foi citado por Barre como seu favorito e naquele momento compreendi o motivo pelo qual este também figura na prateleira de cima dos meus favoritos de todos os tempos. Disco muito bem trabalhado e tido por mim como o álbum que lançou uma base sólida para o futuro da música do Jethro Tull ao longo das décadas que passariam. To Cry You a Song finalmente levantou a até então tímida platéia do teatro naquela noite em uma versão mais pesada do que a gravação original. 

Incendiando o espetáculo, duas faixas de um dos mais importante álbuns da história da música ganharam o público mais uma vez. A boa surpresa foi Hymn 43, raramente executada ao vivo pelo JT e Aqualung que pagou o ingresso de muitos dos presentes naquela noite. O meu foi pago em outras faixas, já que este não é um trabalho muito apreciado por mim...

Outro ponto alto do show foi a linda versão de War Child, faixa título do tão criticado disco de 1974. Em uma introdução crua vinda de um Roland RD2000, que simulava um belo timbre de piano, Dee Palmer trouxe um conceito diferente e ainda mais belo para a música. Sealion foi sem dúvida a execução mais pesada do show a qual contém indiscutivelmente meus riffs favoritos de Martin Barre em melodias fantásticas e um tanto sombrias em certas partes. 

Já na segunda metade do show, mais um hit levantou a platéia com uma versão bastante interessante de Cross-Eyed Mary onde a flauta de Anderson, mais uma vez, não faria falta alguma naquele momento. Uma verdadeira combinação explosiva entre o piano de Palmer e a guitarra de Barre. 

Heavy Horses emendada a Songs From The Wood foram os momentos de maior expectativa para essa que vos escreve. Duas releituras magníficas de discos que ilustram uma fase mais voltada para o folk mas que, nesse show especificamente, ganharam uma roupagem mais moderna e mais encorpada, sem tirar em nada a essencial beleza de ambas execuções.

Muitos podem discordar mas Hunting Girl pagou meu ingresso. Com seu peso característico, me lembrou muito a versão contida no ao vivo 'Bursting Out' (1978), com exceção as flautas contidas no disco em questão. Faixa esta onde ninguém é protagonista, nesse hora enxerguei o perfeito entrosamento entre seus membros, com um trabalho sólido e em conjunto onde cada instrumento se supria ao outro de forma alucinante. 

Chegando ao seu final temos The Poet and The Painter que corresponde a segunda suíte de 'Thick as a Brick' (1972), faixa esta que não me impactou muito, por assim dizer. Talvez se tivessem tocado apenas a introdução, cativaria mais o público presente. 

Outra faixa selecionada para representar o álbum 'Benefit' foi Teacher, a qual já citei por aqui. Especificamente, foi uma das melhores onde os teclados apareceram com mais destaque. Nesse momento, o tímido Adam Wakeman destilou com muita competência toda sua técnica no instrumento. Por ser filho de quem é, não tem erro. Foi um nome muito bem escolhido por Barre para substituir o respeitado e muito técnico tecladista, John Evan. 

A New Day Yesterday já sinalizava uma despedida, infelizmente. Música fortemente influenciada pelo blues, marcando também a introdução da distinta PRS errante de Martin Barre, funcionando muito bem com o baixo agressivo de Thomson. Este não é um arranjo excessivamente complexo, mas olhando para trás, ele dá dicas sobre o som que tornaria a banda tão conhecida nos anos 70.

A única faixa que representou os anos 80, executada nessa apresentação foi Jump Start do álbum 'Crest of a Knave' de 1987. Disco este pouco aclamado pelos fãs da banda que obteve pouca aceitação da crítica voltada para o Rock Progressivo, considerando-o como um trabalho muito aquém da carreira sólida que tivera o Jethro Tull nos idos dos anos 70. A meu ver, foi uma faixa desnecessária contida no setlist, cabia ali outras faixas que poderiam muito bem substituir esta em questão. Apenas minha modesta opinião. Nada mais.

Como acontece na maioria dos encerramentos dos shows do JT, Locomotive Breath fechou com chave de ouro a passagem de Barre e banda pelo Brasil. Fiquei apenas para a belíssima introdução de piano de Adam Wakeman que levantou os presentes de suas poltronas para acompanhar de perto o que viria pela frente. Já se passavam de onze da noite e resolvi deixar o teatro para evitar a aglomeração de pessoas ao fim do show. 

Em suma, tivemos o privilégio de assistir a uma apresentação memorável de um dos melhores e mais técnicos guitarristas do Rock Progressivo, acompanhado por uma banda de peso e deveras competente. Quem não foi, perdeu um espetáculo recheado de grandes hits do Jethro e alguns "lados B" aos quais nunca imaginei que pudesse ver ao vivo em pleno 2020. Ficamos na expectativa da volta de Barre ao Brasil com outro show que possua o mesmo nível de técnica e carisma.

Deixo abaixo, a dobradinha de Heavy Horses e Songs From The Wood, seguida pela faixa Hunting Girl que, na minha humilde opinião, foi a melhor do show. Ambos os vídeos foram filmados pelo amigo Lucas Scarascia do canal Musical Box Records, parceiro de longa data do Progrockvintage.



6 comentários:

  1. Muito boa sua resenha, ilustra bem o que foi aquela maravilha de show!

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  2. Muito bom show , amei este show de ótima qualidade

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