A música eletrônica dos anos 70 foi uma verdadeira explosão que consolidou técnicas e sonoridades que ainda influenciam diversos gêneros até os dias atuais. Este período foi marcado pelo surgimento de estilos e conceitos inovadores, desde o experimentalismo abstrato e sombrio em estúdios fechados, até a fusão com o rock progressivo, que pavimentou o caminho para diversas outras vertentes.
Tal década foi crucial para o desenvolvimento de novos paradigmas sonoros. O uso de sintetizadores, sequenciadores e outros equipamentos eletrônicos, que ainda operavam de forma analógica, abriu portas para a criação de paisagens sonoras nunca antes imaginadas.
A meu ver, o mais emblemático exemplo disso foi o Kraftwerk que, com toda a sua inovação, é uma das bandas mais influentes da história da música, sendo amplamente reconhecida como pioneira no desenvolvimento da música eletrônica moderna, sendo essencial na transição de uma música experimental para uma sonoridade eletrônica popular, criando uma base sólida para outros gêneros que surgiram nas décadas seguintes.
Hoje vou me aprofundar um pouco nesse tema pois não posso nunca deixar de citar músicos e bandas que muito contribuíram para a minha modesta formação musical. O primeiro deles é o insuperável Tangerine Dream. um dos pilares do movimento Krautrock que, ao longo de mais de 50 anos, se tornou uma das maiores influências no desenvolvimento de Ambient Music e Synthwave, criando paisagens sonoras longas e sublimes.
Outro que merece uma citação é Klaus Schulze, um dos fundadores do Tangerine Dream. Se tornou uma das figuras mais proeminentes e influentes da música eletrônica, consolidando-se como uma lenda no cenário do Krautrock. Reconhecido por suas inovações no uso de sintetizadores, sequenciadores e efeitos eletrônicos, Schulze foi um dos pioneiros na exploração de sons eletrônicos longos, hipnóticos e atmosféricos. Sua abordagem visionária na criação de paisagens sonoras expansivas e imersivas deixou uma marca, tanto no mundo da música eletrônica quanto no rock progressivo.
Seria uma heresia deixar de citar uma dupla que aprendi a amar desde os idos dos anos 90. O Daft Punk foi amplamente responsável por transformar minha percepção sobre música eletrônica em todos os seus aspectos. Eles abriram portas para que eu pudesse explorar com ouvidos atentos e com mais clareza os detalhes de muitos nomes do progressivo eletrônico dos anos 70. Com o DP, aprendi que o eletrônico não se resume a batidas compassadas em ritmos lineares, mas sim a uma mistura de sensações. A habilidade do duo em utilizar samples, efeitos e batidas criativas para construir um impacto de movimento constante e repetição foi, sem dúvida, revolucionária para a época. Bons tempos...
A real intenção de toda essa introdução é apresentar neste modesto espaço um belíssimo projeto italiano, oriundo de 1978, que, na minha opinião, figura no mesmo patamar dos nomes mencionados ao longo desta publicação. Trata-se de uma obra que, assim como os pioneiros do progressivo eletrônico dos anos 70, traz uma sonoridade bastante diferente e inovadora, merecendo ser reconhecida por sua contribuição para a música eletrônica e progressiva.
Produzido por Claudio Gizzi, compositor renomado de trilhas sonoras para filmes "trash" italianos, o projeto também conta com contribuições significativas de Romano Musumarra, compositor e produtor italiano. Gizzi, ao longo de sua carreira, colaborou com grandes nomes do cinema, incluindo diretores como Roman Polanski e Luchino Visconti, levando sua habilidade em criar atmosferas sonoras intensas e únicas para diferentes contextos cinematográficos.
Musumarra, além de sua carreira solo, também tem um extenso portfólio de trilhas sonoras para filmes e documentários. Ele se destaca pela sua capacidade de mesclar música eletrônica com ambientes imersivos, criando atmosferas dramáticas que complementam a narrativa visual. Embora muitos de seus trabalhos não tenham sido amplamente divulgados fora da Itália, sua habilidade em criar uma tensão sonora fez com que suas colaborações fossem essenciais para muitas produções cinematográficas da época.
Trata-se de um disco bastante curioso, pois foi inteiramente criado com os sons e timbres de um sintetizador monofônico desenvolvido por um programador genial chamado Mario Maggi. Denominado MCS70, este sintetizador é particularmente notável por ser um dos primeiros instrumentos digitais da sua época, além de seu caráter raro e único: apenas uma unidade foi produzida, um protótipo, tornando-se um dos instrumentos mais raros que existem. A utilização desse equipamento exclusivo confere ao disco uma sonoridade única e de difícil reprodução, destacando-se pela experimentação sonora e pela busca por timbres inovadores e um tanto originais.
A atmosfera criada ao longo da audição é bastante dinâmica, ora enérgica, ora capaz de evocar vibrações obscuras e sombrias. Em algumas passagens, sinto uma forte lembrança do trabalho da grande banda italiana Goblin, que é uma das minhas favoritas no cenário do progressivo italiano. Um exemplo notável é a canção "Droid", que se destaca por seus ritmos intensos, acompanhados de melodias sintetizadas que, por vezes, chegam a proporcionar um clima tenso e inquietante. Já "Ultraviolet" traz sequências suspensas, longas e monótonas, mergulhando o ouvinte em uma atmosfera gelada e temperamental, cheia de nuances.
Automat é um excelente e perfeito ponto de partida para quem está se iniciando nesta curiosa e magnífica vertente do progressivo eletrônico.
Altamente recomendado!
TRACKS:
1 (The) Rise
2. (The) Advance
3. (The) Genus
4. Droid
5. Ultraviolet
6. Mecadence