domingo, 12 de junho de 2016

[RESENHA] QUATERNA RÉQUIEM - SESC BELENZINHO - SÃO PAULO 11 de JUNHO


 
Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan


O outono glacial de São Paulo recebeu no último sábado, pela primeira vez em seus quase 30 anos de existência, a uma inesquecível e belíssima apresentação dos cariocas da banda Quaterna Réquiem no teatro do Sesc Belenzinho. 

Assim que cheguei em São Paulo, acessei o site do Sesc e no mapa constava que os ingressos haviam praticamente se esgotado, restando apenas algumas poltronas vazias. Além disso, logo na entrada do estacionamento do teatro, havia uma placa dizendo que os eventos relacionados á música também estariam esgotados. Porém, após muito rodar aquele lugar que mais parece uma cidade de tão grande, consegui chegar ao local onde aconteceria o show e me deparei com a bilheteria aberta com dezenas de ingressos disponíveis a venda. Eu e mais algumas pessoas ficamos sem entender o porquê daquilo e até agora não cheguei a nenhuma conclusão sobre como funciona a venda de ingressos no Sesc Belenzinho. Ou seja, quem queria comparecer de última hora e ao menos pesquisou no site para se certificar que ainda haviam ingressos, ficou de fora. Sinceramente, não entendo a logística usada para a comercialização desses ingressos. 
Foto retirada do acervo do amigo José Eduardo D´Elboux
Achei uma baita sacanagem mas mesmo assim o teatro estava abarrotado de gente. 

Mesmo com esses percalços, a estrutura do local é coisa de primeiro mundo e o teatro é um espetáculo em termos de acomodações, acústica, som e iluminação. A equipe técnica surpreendeu em todos os quesitos que envolvem a preparação do palco, mantendo a equalização e harmonia de todos os instrumentos de forma impecável. Quem estava trabalhando ali naquele momento, entendeu perfeitamente o que cada músico, com sua particularidade, se propunha a fazer. 

Difícil mesmo é ter que traduzir em palavras a uma linda apresentação de uma banda a qual sou fã incondicional há anos e possuo um enorme apreço por cada um de seus membros. 

O show teve seu início com Fanfarra que vem abrindo, na maioria das vezes, os shows do QR desde o lançamento do disco Quasímodo (1994). Elisa entoava ali as primeiras notas de um show que veio a superar as expectativas de todos, fazendo valer a pena estar ali presente apesar do frio intenso que fazia em São Paulo naquela noite.  



Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan
Aquartha veio pra mostrar que o jovem talentoso guitarrista, Felipe Wiermann tem competência e técnica suficientes para substituir a passageira preocupação em relação a ausência de Kleber Vogel na execução de um lindo violino, que era um dos alicerces da banda. Não decepcionou em hora nenhuma e conseguiu adaptar com extrema perfeição todas as passagens de violino a brilhantes solos de guitarra, acrescentando assim um segundo guitarrista a banda. Ao meu ver foi uma ideia genial que tem tudo para dar certo em futuros projetos.


Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan
Na sequência, veio uma homenagem a cidade de São Paulo destacando todas as formas de suas arquiteturas, com a belíssima execução de Fantasia Urbana que compõe o último disco lançado em 2012. Destaque absoluto para os lindos solos de guitarra de Roberto Crivano executados com maestria em todo o decorrer da música. Gosto muito da timbragem e técnicas usadas por ele, chegando a deduzir uma grande alusão ao mestre Gilmour em certas passagens. 

 Os Reis Malditos é introduzido por uma linda timbragem de cravo extraído de um Kurzweil que atendeu muito bem a Elisa, acompanhado de um sintetizador digital Roland JD-800 (creio) que fez um barulho bom em todo o decorrer do show. 

Irmãos Grimm dá um toque de música medieval a apresentação, seguido por duas das sete suítes mais representativas da longa faixa Quasímodo, A Toca dos Ratos e Montfalcon que, em certas passagens levaram os paulistas ao delírio.  

Ao final, em um dos agradecimentos e homenagens do querido amigo Claudio Dantas, fui surpreendida em ter a melhor música do show dedicada a mim e aos grandes deuses do progressivo, como mencionou Dantas em suas tenras palavras. Não esperava nunca tal homenagem em um momento em que o espetáculo chegava a seu maior ápice na execução de uma das mais belas obras existentes no Rock Progressivo ao meu ver. Velha Gravura certamente, foi o mais marcante momento do show ao qual me emocionei muito durante os quase vinte minutos de sua execução. Além da música ser belíssima, fomos surpreendidos por um pequeno medley adaptado em homenagem a alguns desses "deuses progressivos" sendo eles Yes, Pink Floyd, Rick Wakeman e Camel. Posso dizer que o teatro quase desmoronou nesse momento. 

Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan

O encerramento ficou por conta de Toccata, uma de minhas favoritas de toda as obras lançadas pelo Quaterna. Progressivo de peso onde as duas guitarras se duelam freneticamente, acompanhadas pelo poderoso e ruidoso baixo Hofner dedilhado pelo competente baixista, Guilherme Ashton. 
Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan
Os baixos no progressivo são instrumentos de destaque e que muito colaboram para as atmosferas pesadas e um tanto obscuras na maioria das vezes. Esse baixo não costuma ser usado quando se trata de Rock Progressivo mas pela bela técnica vinda do Guilherme, me veio a questionar o porquê desse instrumento em particular, não ter sido mais aproveitado por esse gênero musical.

A interação entre todos os membros é algo difícil de se ver por aí. O progressivo tende a ser um estilo minucioso, voltado para a concentração extrema em cada instrumento onde uma nota perdida frente a um teatro lotado, significa o fracasso e a decepção pessoal pra quem toca. Se olhar pro lado, corre o risco de se desconcentrar e atrapalhar o andamento do show. O que impressionou foi a perfeita e simpática interação dos músicos durante todas as faixas tocadas contradizendo assim, esse complexo e tão venerado gênero musical. 

Não poderia nunca fechar essa publicação sem deixar de citar com honras os irmãos Elisa Wiermann e Claudio Dantas que, além de meus amigos, sempre foram o alicerce do Quaterna Réquiem.

Elisa é formada em Piano pela UFRJ e nos anos seguintes fez um curso de pós-graduação em Cravo nessa mesma universidade. Com formação erudita, ela chegou a ministrar aulas de órgão aos jovens e reclusos monges do Mosteiro de São Bento no Rio. 
Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan
É altamente reconhecida no mundo inteiro em publicações especializadas em música de câmara e, se não estou enganada, fez parte da Orquestra Sinfônica Brasileira. 
Pessoa linda, cativante e de uma competência extraordinária. Compôs juntamente com Dantas e Vogel todas as músicas criando perfeitas timbragens retiradas de teclados eletrônicos que simulavam instrumentos como o já citado Cravo, Tubular Bells, órgãos de igreja, dentre muitos outros aos quais não sou capaz de identificar.

Além de ser o maestro da banda como um todo, Dantas é um exímio baterista que conduz os quatro músicos de forma impecável com toda sua apurada técnica e simpatia, que lhe é bastante peculiar.  Um ser formidável, de uma educação ímpar, que possui uma sensibilidade fora do normal quando substitui seu par de baquetas por um pincel em seus momentos de criação artística em lindas telas. Assim como na música, Dantas sempre respirou a arte expondo seus quadros em renomadas galerias do Rio, juntamente com artistas de renome internacional.
 
Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan


 Aproveito a ocasião para agradecer imensamente por ter me presenteado com as baquetas usadas no show e o setlist contendo uma linda dedicatória e autografada pelos cinco componentes. Devo confessar que nessa hora minhas pernas chegaram a bambear por tão inesperado presente.

Deixo aqui o meu fraterno agradecimento ao Quaterna Réquiem por um dos mais belos espetáculos de Rock Progressivo ao qual pude presenciar. Quem me conhece sabe que ontem realizei um sonho que era poder ver de muito perto a uma digna apresentação da banda em uma produção a altura de seu talento. 

Agora eu e mais uma centena de pessoas esperamos por um show como esse em BH o mais rápido possível!

Foto do acervo de Marcos Vinicius Troyan 




Segue abaixo alguns videos do show no Sesc Belenzinho.
Filmados por Nelson de Souza. 


4 comentários:

  1. Bela resenha para um show maravilhoso!! Dos momentos marcantes, a introdução de Fanfarra com beleza e ênfase muito bem colocados; e a maravilhosa ( e muito justamente dedicada a Luciana) "Velha Gravura", com a idéia de deixar os solos individuais em cima de covers (com certeza a preferência dos solistas, imagino), casou muito bem (e os covers muito bem escolhidos claro -a hora que entrou Camel quase infartei,kkk) !! Na minha opinião, só faltou o Prefácio de O Arquiteto...Grande show, resenha a sua altura !! Abraço, J.Eduardo D'Elboux

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  2. Bela resenha para um show maravilhoso!! Dos momentos marcantes, a introdução de Fanfarra com beleza e ênfase muito bem colocados; e a maravilhosa ( e muito justamente dedicada a Luciana) "Velha Gravura", com a idéia de deixar os solos individuais em cima de covers (com certeza a preferência dos solistas, imagino), casou muito bem (e os covers muito bem escolhidos claro -a hora que entrou Camel quase infartei,kkk) !! Na minha opinião, só faltou o Prefácio de O Arquiteto...Grande show, resenha a sua altura !! Abraço, J.Eduardo D'Elboux

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