domingo, 24 de novembro de 2019

[PRV RECOMENDA] TAU CETI - Meus Dois Mundos - 2019



Engenheiro por formação e músico por vocação, o tecladista paulistano José Eduardo D'Elboux deu início ao seu promissor projeto no fim dos anos 80 quando formou o Tau Ceti ainda como um trio. Os anos se passaram e após longos estudos, resolveu desengavetar um lindo álbum solo lançado oficialmente no segundo semestre deste ano.

Intitulado por 'Meus Dois Mundos', traduz com perfeição as duas principais paixões de D'Elboux: a música clássica e o Rock Progressivo. Nesse trabalho, o músico consegue imprimir seu enorme talento e destreza ao criar lindos e, muitas vezes, complexos arranjos para órgãos, pianos e sintetizadores em peças de extremo bom gosto.


Acervo de José Eduardo D'Elboux


Sendo assim, o disco é dividido em duas partes distintas. A primeira é dedicada ao Rock Progressivo, incluindo várias técnicas nitidamente inspiradas em Keith Emerson, seu maior mentor.

Nesse segmento, destaco logo de cara a faixa, 'Prelúdio para Sintetizador', que abre os trabalhos com um enorme impacto causado pelos poderosos timbres extraídos de um Alesis QS7 (famoso sinthy digital dos anos 90 conhecido por sua infinidade de recursos e programações).

Outras que merecem atenção pela criatividade nas instrumentações e hamonias muito bem construídas são 'Tempestades Noturnas' e Reflexões Ectoplasmáticas, sendo esta última elaborada com uma infinidade de belos timbres, incluindo passagens de um simulador de piano e um Hammond bastante característico aos tempos áureos de Emerson no ELP. 

Fechando com maestria a seção progressiva, temos a linda 'Prelúdio Improviso Para Piano', composição de extremo bom gosto a qual me cativou bastante e a tenho como uma de minhas preferidas do álbum. Seguindo pouco ou nada aos moldes do Rock Progressivo, é uma faixa que demonstra toda versatilidade que um belo piano pode proporcionar a quem sabe realmente manusea-lo, mesmo em formato digital.

A segunda parte do trabalho de D'Elboux é dedicada a música erudita onde o músico dá ênfase a um quarteto de grandiosos compositores: Bah, Beethoven, Borodin e Bruckner. Além de composições de sua própria autoria. 

O mais interessante nesse segmento erudita é a incansável utilização de um potente Moog Prodigy que se encaixa com precisão ao gênero musical proposto e que acabou sendo inspiração ao que conhecemos por Rock Progressivo.

Os destaques aqui vão para 'Épica', uma construção de harmonias baseadas na 'Sinfonia Nr. 2 em Si Menor para Alegro' de Borodin. Também uma de minhas favoritas do disco. Valendo atenção também para 'Prelúdio Para Órgão', onde D'Elboux utiliza uma timbragem que simula um belo órgão de igreja. Faixa curta porém, muito bem executada produzindo uma encantadora atmosfera sombria, por assim dizer. 

O disco se encerra com duas faixas bônus de altíssimo nível, anteriormente lançadas no disco homônimo da banda em 1995 e rearranjadas para o trabalho atual. 'Antares', se inicia com uma bela introdução de piano seguida por um lindo solo de Prodigy, faixa esta considerada por mim como a mais progressiva de todo o disco. Encontramos também alguns fragmentos que se equiparam a uma espécie de chorus, o que nos faz remeter a um onipresente Mellotron.

Fechando a audição, uma bela releitura de Toccata (Bach) onde, mais uma vez, o Prodigy aparece em destaque em seus pouco mais de três minutos de execução em surpreendentes solos. Aqui D'Elboux destila ainda mais toda sua técnica e nítida destreza com o instrumento. 


Acervo de José Eduardo D'Elboux

O responsável pela produção, gravação e mixagem fica a cargo do músico e produtor Eduardo Aguillar (Vitral), proprietário do Laborátorio Pedra Branca onde o disco em questão foi gravado. 

Devo salientar aos poucos leitores deste espaço que não estou muito acostumada com obras realizadas a partir de instrumentos sampleados. Nesse trabalho em específico, temos a percussão e alguns fragmentos de baixo e bateria elaborados em formato digital e gravados em MIDI (Musical Instrument Digital Interface), que permite gravar informações musicais (em partitura ou tocadas em tempo real) para posterior reprodução. Porém, o álbum ''Meus Dois Mundos'' foi tão bem produzido que esses ''instrumentos'' acabam ficando em segundo plano, não atrapalhando em nada a proposta elaborada por D'Elboux. 

Trata-se de um dos melhores trabalhos realizados em terras brasileiras esse ano e que vale muito a pena ser conferido. 

O disco está disponível nas principais plataformas de streaming, podendo também ser adquirido fisicamente através de contato direto com o músico através do email jedelboux@hotmail.com

Deixo abaixo, amostras em vídeo de algumas faixas contidas no álbum "Meus Dois Mundos":






8 comentários:

  1. Muito obrigado, Luciana, pelo apoio e plena compreensão desse trabalho!! Obrigado, e grande prog-abraço!! D'Elboux

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    1. Estamos juntos, Edu! Tau Ceti foi uma de minhas primeiras divulgações no antigo domínio do Progrockvintage e a perdi quando o mesmo foi excluído.
      Seu novo trabalho é merecedor de uma divulgação mais abrangente.

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  2. Um trabalho fabuloso e raro em proposta tanto aqui no Brasil como em outros países como fiz questão de destacar em meu blog "peculiar prog" quando também o resenhei na época de seu lançamento. Parabéns pela sua bela resenha Luciana na qual gostei muito por esclarecer nitidamente sobre os teclados utilizados na gravação. Veio também de encontro às minhas idéias a respeito do álbum. Excelente!

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    1. Vinicio, é nosso dever apoiar o progressivo nacional. Faço o que posso para manter essa chama acesa. Vamos em frente...

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  3. Obrigado, Vinício!! Três resenhas q guardo no coração, a sua, esta da Luciana e a do Amyr... Abraço!!

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